quinta-feira, 14 de outubro de 2010

As flores




A tristeza é um alívio, ela pensou ao ver as flores. Se fossem para ela, onde estaria agora? Totalmente desencaixada do seu corpo, vazando por todo o desenho pequeno. Querendo passar do limite do que é coexistir e ter coisas nesse mundo. Sem saber o que fazer com o turbilhão que sempre colocava fogo em tudo e em todos. A tristeza é um alívio. O não deu em nada era a melhor das coisas que poderiam dar. Pra piorar vieram de bicicleta e o entregador era bem baixinho. Isso tudo, sabe-se lá o motivo, lhe pareceu romântico como ela merecia que a vida fosse. Não sabia nada a respeito dele, não sentia nada por ele, em dois segundos ele nem seria mais lembrado. Mas ela tinha resolvido, apenas porque ele parecia ser alguém que mandaria flores, que ela poderia saber e sentir e lembrar. Estava certa, as flores chegaram, mas com outro nome. Para ela tinham sobrado uns risos e umas fofocas e uma total incompreensão do que ela era, na sala ao lado. Para ela tinham sobrado risos, até porque ela era tão engraçada. Até porque ela, sempre com tanto medo de flores, só pedia mesmo os risos. Então a conta fechava. Ela só queria personagens rápidos e eles só queriam uma história pequena. A vida era honesta demais com todas as mentiras que ela contava.

Tati Bernardi

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